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sábado, 2 de novembro de 2013

A escuridão não tapa a miséria

A escuridão não tapa a miséria

 
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Mais de 100 pessoas, estavam já pela meia noite, à porta do Centro de Emprego de Portimão.
Mais de 100 pessoas estavam já, pela meia-noite de hoje, à porta do Centro de Emprego de Portimão. (daqui)
Podemos apagar a luz para não ver a realidade, podemos dar-lhe voltas e olhar para o país com um milagre económico, como Pires de Lima fez ontem, descaradamente. Podemos ver as gargalhadas da ministra swap no Parlamento e, às vezes, achamos mesmo, mesmo, mesmo que vivemos num país diferente. Mas a realidade é como as baratas, sobrevive a tudo e, mesmo mascarada, entra-nos pela porta dentro com estrondo.
Não há alternativa. Temos de ter cuidado com os mercados. Estamos no rumo certo. Não há alternativa, não há alternativa, não há alternativa. Vamos continuar a ouvir isto até à exaustão para que ecoe nas nossas cabeças como as enxaquecas, mas isto, a mim, dói mais. A miséria que se aprofunda e, mesmo que se queira olhar para o lado e ignorar, ela passa a porta sem pedir e entra-nos pelos olhos dentro. Ontem foi no Lagarteiro. A EDP, que teve lucros de 792 milhões de euros entre Janeiro e Setembro de 2013, mandou cortar a luz a centenas pessoas no Bairro do Lagarteiro, um daqueles bairros que a maioria das pessoas só conhece quando há uma operação policial com honras mediáticas.
Não têm dinheiro para pagar a luz, os parasitas, que teimam em querer comer. A alimentação é sobrevalorizada, ainda havemos de ouvir isto, quando o pão que comemos souber a merda. O Zeca é que sabia bem do que cantava.
Ontem foi no Lagarteiro mas, nesta semana, também lá no meu bairro a EDP cortou a luz em três ou quatro casas. Não sei ao certo a quem, porque, lá está, a vergonha esconde-os mas mostra-nos todos os dias o país em que vivemos. Assim, sem filtros nem adornos. Segundo a TSF, na manhã de hoje havia já gente com electricidade, através das chamadas “puxadas” de vizinhos que – ainda – têm electricidade.
É este o país em que vivemos, em que um sector estratégico do Estado foi privatizado a bem do mercado. Sempre o mercado. E assim acaba a responsabilidade de o Estado em ter o dever de garantir as condições mínimas de dignidade para quem ainda sobrevive neste país.
Às 13h00 de hoje haverá concentração em frente à EDP, na Avenida da Boavista. Certamente que dá mais trabalho do que assinar uma petição, que o Blatter é um malandro e o nosso patriotismo é tão forte que não admitimos que um gajo de fora diga mal do nosso menino d’ouro. E tantas assinaturas. Indigno aquele gajo da FIFA. Aquilo não se faz ao Cristiano. Mas não é isso que envergonha o nosso país. Não é um velho caquéctico que nos ofende. Quem nos ofende todos os dias está cá dentro, bem mais próximo que o Blatter e governa e mata-nos.
O último a sair que apague a luz.

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